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Arquitetura inovadora: O poder efêmero do concreto e a durabilidade do papelão

escrito por

Marcia Garcia

publicado em

7 de maio de 2025

tempo de leitura:

9 min

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Shigeru Ban, renomado arquiteto e vencedor do Prêmio Pritzker de 2014, desafia a visão tradicional sobre materiais na construção civil ao afirmar que “o concreto pode ser temporário, e o papelão permanente”. Sua abordagem inovadora destaca a importância de métodos sustentáveis e acessíveis em um mundo em que os recursos são cada vez mais limitados. Com projetos que vão de igrejas a museus, Ban utiliza papelão reciclado como uma solução viável para abrigar pessoas afetadas por desastres naturais, refletindo uma responsabilidade social intrínseca à prática arquitetônica. Ele critica a efemeridade de muitas construções voltadas para o lucro, defendendo que estruturas pensadas com cuidado podem perdurar e servir às comunidades. Além disso, suas iniciativas, como a fundação da Voluntary Architects Network, exemplificam seu compromisso em transformar a arquitetura em uma ferramenta de inclusão e melhoria da qualidade de vida urbana. Prepare-se para explorar como a criatividade e a inovação podem redefinir a forma como olhamos para a arquitetura contemporânea:

Arquitetura: o papelão e o concreto na visão inovadora de Shigeru Ban

A arquitetura, como um reflexo das nossas necessidades e valores sociais, é um campo em contínua evolução. Recentemente, o renomado arquiteto Shigeru Ban, vencedor do Prêmio Pritzker de 2014, trouxe à tona uma discussão provocativa ao afirmar que “o concreto pode ser temporário, e o papelão permanente”. Essa declaração nos leva a questionar o nosso entendimento sobre a durabilidade e a função dos materiais na construção civil, especialmente em um momento em que as cidades estão cada vez mais apertadas e os recursos, escassos.

 

A nova era do design arquitetônico

A inovação no design arquitetônico não é apenas uma tendência passageira. Ela tem raízes profundas em necessidades humanas reais, como a necessidade de abrigo após desastres naturais. Ban, conhecido por seu trabalho com papelão reciclado, desenvolveu projetos que vão desde igrejas até museus. Sua abordagem reflete uma aversão ao desperdício e um compromisso com a criação de soluções habitacionais sustentáveis. Durante uma palestra em São Paulo, ele destacou que muitos edifícios projetados para lucro são efêmeros, enquanto estruturas criadas com cuidado e atenção podem perdurar. “Enquanto um prédio feito para ganhar dinheiro pode ser temporário, uma estrutura de papel feita por um estudante pode ser permanente”, ele afirmou.

 

Essa ideia de permanência, ligada ao conceito de responsabilidade social dos arquitetos, nos leva a refletir sobre o papel da arquitetura no contexto urbano. Em suas obras, Ban demonstra que é possível construir com materiais simples e acessíveis, criando espaços acolhedores e funcionais mesmo em situações de crise. O modelo de casa chamado de Paper Log House, por exemplo, foi idealizado após o terremoto de Kobe em 1995 e se tornou um símbolo de resistência e adaptação, servindo como abrigo econômico e seguro para as vítimas.

 

Uma arquitetura voltada para o humano

O trabalho de Shigeru Ban transcende a estética e busca impactar a qualidade de vida das pessoas. Ao fundar a Voluntary Architects Network, ele mobilizou estudantes e voluntários para colaborar na construção de moradias em regiões afetadas por desastres. A ONG já atuou em diversos países, como Japão, Haiti e Nepal, oferecendo soluções habitacionais que respeitam o meio ambiente e atendem às necessidades imediatas das comunidades.

 

Essas casas de papelão, embora consideradas temporárias, são projetadas para oferecer conforto e proteção. Ao abordar a eficiência dos materiais, Ban propõe uma visão alternativa sobre o que significa construir de forma sustentável. Ele critica a ideia convencional de sustentabilidade, afirmando que “não gosta de dizer que o projeto é sustentável ou ecológico, porque não sei o que isso significa na prática”. Em vez disso, seu foco está em evitar o desperdício e buscar o máximo aproveitamento dos materiais disponíveis.

 

Transformação urbana e responsabilidade social

As grandes cidades enfrentam um desafio constante: a necessidade de se reinventar frente às demandas habitacionais e urbanísticas. A crítica de Ban aos edifícios temporários promove uma reflexão sobre a natureza efêmera de muitas construções urbanas atuais, que são demolidas para dar espaço a novos empreendimentos. A questão que se coloca é: quantos desses espaços realmente servem à comunidade e contribuem para o bem-estar social?

 

O arquiteto japonês destaca que, enquanto as cidades são reconstruídas, é essencial devolver qualidade de vida às pessoas afetadas. Esse conceito intrínseco à sua prática arquitetônica transforma a arquitetura em uma ferramenta poderosa para a mudança social e a inclusão. Ao considerar materiais como o papelão, ele desafia a percepção convencional de que apenas os materiais tradicionais, como o concreto, são sinônimos de solidez e durabilidade.

 

Inovações que desafiam o status quo

O projeto do Centro Pompidou-Metz, em Metz, França, é um exemplo emblemático da capacidade de Ban de combinar criatividade e funcionalidade. Com uma estrutura que prima pela leveza e pela interação com o ambiente, ele demonstra que a arquitetura pode ser não apenas bela, mas também prática e sustentável. Outras obras notáveis incluem a Catedral de Papelão na Nova Zelândia e a La Seine Musicale em Paris, onde a versatilidade do papelão é colocada em evidência.

 

Esses projetos desafiam a ideia de que o sucesso de uma construção está atrelado ao uso de materiais pesados e tradicionais. Ban nos convida a olhar além do concreto e a considerar soluções inovadoras que possam atender às necessidades contemporâneas de forma eficiente e responsável.

 

O futuro da arquitetura sob a ótica de Shigeru Ban

O olhar visionário de Shigeru Ban sobre a arquitetura e o urbanismo traz à tona a importância de se pensar fora da caixa—ou melhor, fora da concretagem. A flexibilidade, a adaptabilidade e a reutilização de materiais são pilares que podem transformar a maneira como convivemos nas cidades. À medida que enfrentamos crises climáticas e habitacionais, a proposta do arquiteto é um convite à reflexão e à ação.

Se cada arquiteto adotasse uma abordagem semelhante, a qualidade de vida nas cidades poderia melhorar significativamente. Como Ban observa, “a verdadeira beleza da arquitetura reside na sua capacidade de servir ao público e de promover o bem-estar coletivo.” Isso nos leva a crer que, com um pouco de criatividade e boa vontade, o papelão pode se tornar um símbolo de um mundo mais justo e sustentável.

 

Innovando sobre o Concreto

Ao final, as palavras de Shigeru Ban ressoam como um chamado à ação para todos os profissionais da área: a arquitetura deve servir à humanidade, e não apenas ao mercado. Se conseguirmos unir inovação e responsabilidade social, podemos viver em um mundo onde o papelão e outros materiais alternativos sejam vistos como verdadeiras soluções permanentes, desafiando as normas estabelecidas e promovendo um futuro mais inclusivo. Afinal, cada estrutura erguida com amor e pensamento crítico pode, sim, ser um legado duradouro.