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Acontece no mercado imobiliário

Como a alta da Selic impacta quem compra imóveis?

escrito por

Marcia Garcia

publicado em

14 de maio de 2025

tempo de leitura:

10 min

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Alta da Selic redesenha perfil social e geográfico de quem compra imóvel

 
O mercado imobiliário brasileiro vive um momento de transformação intenso, impulsionado pela alta da Selic, que tem gerado impactos profundos no perfil social e geográfico dos compradores de imóveis. A variável econômica que antes era considerada um termômetro de crescimento agora se tornou uma barreira, exigindo não apenas adaptação dos consumidores, mas também um reposicionamento estratégico tanto das incorporadoras quanto do governo. Este artigo explora como a alta da Selic muda as regras do jogo e o que isso significa para quem planeja adquirir um imóvel.

 
A recente alta da Selic, que elevou a taxa de juros de 5,5% para 14,75%, está reformulando o cenário do mercado imobiliário brasileiro, gerando profundas mudanças no perfil social e geográfico dos compradores de imóveis. Muita gente que antes podia adquirir um imóvel agora se vê excluída do financiamento, com famílias enfrentando parcelas significativamente mais altas. Pesquisa do Instituto Cidades Responsivas revela que cerca de 3,3 milhões de brasileiros foram afastados do financiamento habitacional devido a essas novas condições econômicas.

 
Enquanto capitais como São Paulo registram uma queda acentuada no número de potenciais compradores, outras cidades, como Recife, mostram resiliência. Nesse contexto, incorporadoras e governo precisam repensar suas estratégias, oferecendo alternativas criativas e acessíveis para facilitar o acesso à moradia. O setor imobiliário se vê na necessidade de inovar e adaptar suas operações às novas realidades do consumidor. Quer saber como essa transformação impacta o mercado e quais caminhos estão sendo traçados? Confira abaixo:

Impactos da Alta da Selic no Financiamento Imobiliário

Desde 2021, a taxa de juros no Brasil vem passando por um aumento significativo, saindo de 5,5% para os atuais 14,75%. Essa mudança drástica não é apenas numérica; ela altera diretamente a dinâmica de financiamento. Um comprador que em 2021 poderia financiar 50% de um imóvel de R$ 900 mil com parcelas de aproximadamente R$ 3.966 agora enfrenta uma realidade dura: as parcelas subiram para R$ 5.425, demandando uma renda mensal de cerca de R$ 18.086. Isso representa uma exclusão real de muitos potenciais compradores do mercado.

De acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Cidades Responsivas, cerca de 3,3 milhões de brasileiros foram afastados do financiamento de imóveis devido ao aumento da Selic. Esse fenômeno é particularmente notável nas capitais, onde a redução da parcela da população apta a comprar imóveis foi expressiva: em Belém, por exemplo, a porcentagem de pessoas aptas caiu de 7,5% para 3,5%. Em São Paulo, a capital mais populosa do país, 565 mil pessoas deixaram de estar em condições de financiar um imóvel nos últimos quatro anos, o que demonstra que a alta da Selic redesenha não apenas o perfil dos compradores, mas também as estratégias das incorporadoras.

 

A Nova Demografia dos Compradores

A alta da Selic não afeta todos os locais da mesma forma. Enquanto São Paulo e Porto Alegre enfrentam quedas substanciais na quantidade de compradores, outras cidades, como Recife, têm mostrado resiliência, ainda que em mercado encarecido. O dado mais alarmante é que, mesmo com o crescimento da taxa de juros, uma parte relevante da população continua se qualificando para financiamentos. São Paulo, por exemplo, ainda concentra a maior parte do potencial de compra, com quase 1,25 milhão de pessoas em 2021 aptas a financiar imóveis.

 

Por outro lado, cidades que têm registrado redução populacional, como Porto Alegre e Recife, ainda mantêm uma porcentagem considerável de sua população apta a financiar, mas isso não necessariamente indica um mercado robusto. Na verdade, essa situação é um reflexo do aumento das dificuldades econômicas e das mudanças nos padrões de demanda. As incorporadoras precisam, portanto, entender essas dinâmicas demográficas para ajustar suas ofertas e estratégias de marketing de maneira eficaz. Se o crédito ficou caro, a necessidade de inovação e flexibilização nas estratégias é fundamental.

 

As Estratégias das Incorporadoras em Tempos de Crise

Diante desse cenário desafiador, as incorporadoras têm buscado alternativas criativas para manter suas operações. O que antes eram vendas garantidas na planta agora se traduz em distratos e a necessidade de oferecer financiamentos diretos aos clientes. A busca por liquidez exige que as empresas olhem além do modelo tradicional de financiamento e explorem opções no mercado de capitais, como FIDCs e CRIs, que podem oferecer soluções financeiras mais flexíveis.

 

Além disso, o governo federal tem respondido ao encolhimento do crédito tradicional com iniciativas como a Faixa 4 do Minha Casa Minha Vida, que visa facilitar o acesso à moradia, oferecendo financiamentos com juros máximos de 10,5% ao ano, significativamente inferiores às taxas do mercado. Essa medida busca resgatar potenciais compradores que, antes, estavam excluídos por não se encaixarem nas faixas convencionais de financiamento.

 

Alternativas e Soluções Eficientes

O mercado imobiliário, portanto, não pode se dar ao luxo de ser complacente. Ele precisa ser dinâmico e adaptável. As decisões de produto devem ser embasadas em análises detalhadas da renda disponível das famílias, da elasticidade dos preços e da viabilidade econômica de novos projetos. A capacidade de encontrar o credor certo e o produto certo para o momento certo do projeto se tornou uma parte essencial da sobrevivência das incorporadoras.

 

O financiamento habitacional no Brasil é amplamente sustentado pelo Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), cuja saúde está diretamente ligada ao volume de depósitos em poupança. No entanto, desde 2022, esse sistema enfrenta um desafio: a poupança registra mais saques do que depósitos, com investidores migrando para aplicações mais rentáveis. Esta mudança acaba restringindo a oferta de crédito habitacional e eleva a cautela dos bancos na concessão de financiamentos.

 

Reinventando o Mercado Imobiliário

Enquanto o mercado tenta se adaptar às novas condições, é essencial que as incorporadoras invistam em estratégias que priorizem a análise de dados e o entendimento do comportamento do consumidor. A personalização das ofertas e o atendimento às necessidades específicas dos clientes podem marcar a diferença em um ambiente tão competitivo e desafiador. O planejamento urbano e as políticas públicas devem acompanhar essas transformações, garantindo que o acesso à habitação seja uma prioridade, mesmo em tempos de incerteza econômica.

 

E assim, o cenário atual nos ensina que a alta da Selic não é apenas um fenômeno econômico, mas uma força que molda comportamentos, dinâmicas sociais e até mesmo a geografia urbana. As incorporadoras, o governo e os próprios consumidores precisam trabalhar juntos para descobrir soluções inovadoras que possibilitem o acesso à moradia em um contexto de desafios.

 

Hora de Mudar o Jogo

O momento atual exige atenção e estratégia. Enquanto a alta da Selic continua a moldar o perfil dos compradores no mercado imobiliário, a capacidade de adaptação e inovação será o diferencial para aqueles que buscam se destacar nesse ambiente. Se reinventar numa fase de crise pode ser o caminho mais seguro para garantir a robustez do setor e a realização do sonho da casa própria para muitos brasileiros.

 

Em resumo, a alta da Selic não apenas muda as condições do financiamento imobiliário, como também implica que o setor deve se reinventar constantemente, buscando alternativas que atendam a um novo perfil de comprador. Um novo capítulo se inicia, e a pergunta que fica é: quem estará preparado para liderar essa transformação?

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